Na Espanha há um mecanismo conhecido como “cama quente”. Trata-se de um sistema em que é feito o aluguel de uma cama por um turno de oito horas. A pessoa pode dormir e, no fim das oito horas, outra pessoa assume aquele lugar.
Esse mecanismo é resultado do aprofundamento de uma superexploração econômica que emergiu no pós-crise de 2008. Além disso, após a crise profunda aconteceu um movimento de aumento do valor dos aluguéis e, com isso, um agravamento da crise habitacional.
Essa foi a temática do “Encontro Internacional: Lutas sociais, territórios e moradia digna” que aconteceu na manhã da última quinta-feira (23), na sala do Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (PPU) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O encontro reuniu o professor José Ricardo Vargas de Faria, integrante do coletivo Plantear com Alicia del Rio Alonso e Alberto Martinez Casado do Sincato de Inquilinas de Madrid e Marcel Valls i Martinez e Elvira Espona do Sindicat de Llogateres de Barcelona.
A roda de conversa ainda teve a participação de mais pessoas inscritas para perguntas e também diálogos e trocas de experiências. Os representantes dos sindicatos de Madrid e Barcelona comentaram dos enfrentamentos políticos e sociais que são travados para garantir o direito a moradia digna na Espanha.
Alberto Casado afirmou: “Um salário mínimo na Espanha não permitem ter uma casa própria” e Marcel Valls foi mais além. Segundo ele, apesar de o salário mínimo ter tido um aumento nos últimos anos, praticamente a totalidade dessa remuneração precisa ser investida para ter um aluguel em Madrid.
O encontro também foi marcado pela troca de experiências entre os sindicalistas e o professor José Ricardo que comentou da extensão e assessoria técnica desenvolvida pelo Plantear. Segundo o professor, a pandemia de covid-19 vívida, em especial, entre os anos de 2020 e 2021 aprofundou a crise dos alúgueis.
Explica José Ricardo que com a perda de renda garantida, as famílias não conseguiam mais sustentar o valor da casa e isso acabou gerando novos movimentos de ocupações. Além disso, os fundos habitacionais também constituem parte relevante do problema habitacional brasileiro. Para o professor e pesquisador, grandes coorporações ganham dinheiro apenas por possuir um imóvel: “ele nem precisa ser alugado e, em muitos casos, é melhor não alugar”, afirmou.
Os representantes dos sindicatos espanhóis comentaram que, em seu contexto, algumas pequenas vitórias foram obtidas. Uma delas foi a problematização do aluguel, do ato de ter que pagar para ter uma moradia. Outra questão importante foi a união popular para impedir algumas ações de despejo.
Na sequência do evento, os representantes sindicalistas foram para a comunidade Contestado que fica na Lapa, próxima a Curitiba. Além disso, eles visitarão as comunidades Maila Sabrina, 29 de Janeiro e Graciosa, lugares em que o Plantear já desenvolveu trabalhos.
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